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Relacionamento conjugal propõe mudanças nas suas diversas configurações

09/06/2023

Sem sombra de dúvidas está havendo uma significativa mudança nos papéis desempenhados na conjugalidade e na vigência do matrimônio ou sociedade afetiva. Percebemos a evolução através da revisão das funções delegadas aos sócios afetivos nas diversas configurações familiares.

Atualmente são várias as configurações apresentadas em nossa sociedade:

Temos casais que se formam a partir de um ou mais divórcios incluindo filhos destas relações; casais homoafetivos que adotam crianças ou que estão concebendo filhos biológicos através de métodos de fertilização com a possibilidade de inclusão da “barriga solidária”; homens e mulheres que firmam uma sociedade afetiva numa relação trisal; casais que optam por morar em casas separadas; famílias que se configuram por "carreira solo" e adoção de crianças, até mesmo mulheres que engravidam e seguem em maternidade solo, por escolha, com rede de apoio afetivo; pessoas que seguem "solo" e adotam animais como sendo sua família constituída; e por aí vai.

São mais de cem identidades psicossexuais e psicoafetivas que também se apresentam dentro dessas novas modalidades de relacionamento. Embora algumas pessoas pensem o contrário, observamos frequentemente a busca de maior autenticidade nas relações e nos vínculos firmados. Estes, baseados cada vez mais no sentimento e no desejo genuíno de uma vida conjugal e familiar alicerçada na realização afetiva ou, em outros termos, no amor e na reciprocidade de sentimentos e objetivos pessoais comuns aos sócios.

Com a inclusão da mulher no mundo do trabalho e a sua contínua luta para que direitos iguais fossem assegurados a relação conjugal, na sua formatação anterior (relação patriarcal), sofreu significativas mudanças em seu conceito e um novo olhar para a relação afetiva se faz presente em nosso meio. A própria Psicologia precisou rever suas teorias de desenvolvimento humano a respeito do vínculo mãe-filho e o desempenho da função parental na vida da criança a partir destas novas concepções. Também está em constante revisão das teorias do sistema, entre outras, para acompanhar as constantes mudanças.

Para a Ciência Humana, independente da configuração familiar (do "formato"), o que realmente importa é que os papéis se mostrem definidos no contexto familiar para que a individualidade de todos seja preservada, bem como as funções esperadas na família possam ser desempenhadas de um modo claro e efetivo. Portanto, não nos preocupemos com o gênero ou a configuração familiar, vamos dar importância para o desempenho da funções parentais, mesmo que sejam dois homens ou duas mulheres desempenhando as funções de pai e de mãe. Ou três pessoas nesta configuração.

Não há mais lugar, em nossa sociedade, para os casamentos fundamentados em relações aparentes ou superficiais, alimentados apenas por representações sociais aceitáveis ou pelas imagens que normalmente são publicadas nas redes sociais para "vender" a ideia de casamento feliz ou de família perfeita. O lugar conquistado pela mulher na sociedade contemporânea mudou as bases do contrato afetivo (contrato conjugal). Passando a prover suas necessidades básicas, a mulher deixou de valorizar o "homem-provedor", promovendo uma mudança radical na relação conjugal. O "homem-provedor" é artigo de luxo ou um “artigo em extinção” embora muitos continuem insistindo nesse papel por não conseguir se reconhecer de outra maneira. As relações se mostram, portanto, mais equivalentes em suas responsabilidades, tanto na responsabilidade afetiva quanto na responsabilidade social.

Esse novo papel da mulher, segundo o psicanalista David Zimerman, contribuiu fundamentalmente para que o homem colaborasse mais intimamente com algumas tarefas domésticas; com uma nova atitude, a de partilhar com a companheira problemas, projetos e decisões; com um convívio mais próximo e intenso com os filhos e como um novo modelo de identificação que vai além daquele papel do “machão autoritário” ou do "homem-provedor" que atendia apenas as necessidades básicas de sua família.

Ao contrário de algumas mentalidades, que em algum segmento da nossa sociedade ainda reside, essa nova concepção de relacionamento familiar permite que as pessoas sejam mais e não menos. E que as relações perdurem por muito mais tempo nas bases de um relacionamento verdadeiramente funcional. "Meia-sola" serve apenas para aqueles que se reconhecem e mantém suas deficiências, para aqueles que rejeitam toda possibilidade de mudança e crescimento.

Estamos ainda engatinhando nesse despertar de uma liberdade conquistada a duras penas, mas podemos trabalhar, em nós, toda forma de preconceito ou resistência aos novos relacionamentos para que haja crescimento na coletividade. A postura aberta e de interesse genuíno em fazer parte dessa sociedade diversa, com configurações distintas, apenas traz a possibilidade de aprendizado que minimamente passa pelo respeito e pela boa convivência.

# ficaadica 

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