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A fragilidade dos laços sociais

21/06/2023

Somos levados por esta cultura que apresenta um MUNDO INSTANTÂNEO e um “manual de instruções” ditando a regra principal: “é preciso estar pronto para outra”, e a qualquer momento. Ou, então, é preciso estar pronto para manter relações afetivas fracassadas já que não sabemos mais distinguir umas das outras ou porque perdemos a capacidade de manter relações baseadas na entrega, no compromisso real e efetivo para com o outro. Sendo assim, saberemos viver sem esse cenário de ilusões que as redes sociais promovem para nos ajudar a “fazer de conta” que somos felizes e que as relações continuam “intactas”, que o casamento e a família são cultivados com base no compromisso, num real investimento, com doação, entrega, portanto, pode ser permanente?

Em nossa atual sociedade, para “pertencer” e corresponder a esta ordem social, é preciso se ligar, se conectar com o mundo, mas é imprescindível cortar dependência. Deve-se amar, porém sem muitas expectativas, pois elas podem rapidamente transformar um bom namoro num sufoco, numa prisão. O que essa sociedade líquida nos diz, a todo momento: um relacionamento intenso pode deixar a vida um inferno! Entretanto, nunca houve tanta procura em relacionar-se.

Bauman vê homens e mulheres numa verdadeira trincheira sem saber como sair dela e, o que é ainda mais dramático, sem reconhecer com clareza se querem sair ou permanecer nela. Por isso movimentam-se em várias direções, entram e saem de casos amorosos com a esperança mantida às custas de um esforço considerável, tentando acreditar que o próximo passo será o melhor.

Ele ainda acrescenta: “(…) os habitantes circulando pelas conexões líquidas da pós-modernidade são tagarelas à distância, mas assim que entram em casa, fecham-se em seus quartos e ligam a televisão. A solidão por trás da porta fechada de um quarto com um telefone celular à mão parece uma condição menos arriscada e mais segura do que compartilhar um terreno doméstico comum.

Hoje, estamos mais bem aparelhados para disfarçar nossos medos antigos. Nesta sociedade líquida, tememos o que em qualquer período da trajetória humana sempre foi vivido como uma ameaça: o desejo e o amor por outra pessoa.”

Se por um lado vivemos a era do individualismo, por outro temos a chance de transformar este cenário, podendo estabelecer relações mais construtivas, com flexibilidade e liberdade do SER. Avançar, no sentido da evolução do homem, não significa deixar “a fila andar” ou permanecer no “faz-de-conta” que somos todos eternamente felizes, mas rever conceitos e valores trazidos nesta possível mudança de mentalidade que exigirá de todos nós um maior investimento (afetivo) em todas as nossas relações.

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