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A busca incessante por resultados imediatos

19/06/2023

Os efeitos dos processos globalizados causam ansiedade generalizada na busca por resultados imediatos:
Com o advento da globalização, um sentido de urgência passou a fazer parte da vida cotidiana. As consequências da pós-modernidade podem ser experimentadas por uma ansiedade generalizada que toma conta das pessoas que se esforçam para absorver uma gama enorme de informações que são veiculadas quase instantaneamente. Esse esforço permanente, no córtex cerebral, leva as pessoas a um quadro de estresse contínuo que já é considerado parte integrante deste estilo de vida “Fast Life” (Vida Rápida). O sentimento de impotência e frustração é reforçado por essa cultura da pressa que acaba por exigir de todos nós uma resposta imediata e prontidão diante das demandas. O estado de alerta permanente produz ansiedade, estresse, depressão.
 
Na contramão da cultura da pressa, o sentimento de inadequação torna-se inevitável:
Quem tenta não enquadrar-se neste contexto da vida apressada sente-se excluído e experimenta um forte sentimento de inadequação. Viver em “slow motion” (em câmera lenta) sentindo-se bem, é considerado "anormal” para nossa sociedade. O estresse na atualidade é estimulado nas pessoas para que elas respondam mais rapidamente a esta cultura: a cultura da pressa. E as pessoas, de modo geral, procuram fazer parte do contexto social que literalmente empurra todos nessa roda viva prometendo um lugar neste contexto “social”, prometendo reconhecimento e validação para estas posturas equivocadas.
O reconhecimento, a validação da nossa pessoa, o sentimento de inclusão, é uma das necessidades psicológicas que todos nós temos, pois somos seres gregários por natureza. Nascemos pertencentes a um grupo. Ficar de fora do “bando” nos faz experimentar um sentimento que desde os primórdios tentamos evitar: a rejeição. Um exemplo perfeito dos efeitos do “ostracismo” no sentido da exclusão são as celebridades instantâneas que quando se veem fora da mídia entram em profunda depressão e, em alguns casos, cometem o suicídio.
Malefícios do "Fast Life" (Vida apressada):
A sociedade na contemporaneidade propõe a inclusão por meio da cultura da pressa. A pressa é a ordem desse sistema que visa padronizar comportamentos e atitudes para fortalecer ainda mais os processos globalizados, alimentando insistentemente uma engrenagem que visa atingir tão somente resultados quantitativos, levando a ideia de que para "SER" é imprescindível "TER". A mola mestre desta engrenagem se chama capitalismo desenfreado e sem sentido.
Será que para fazer parte desta sociedade você tem, necessariamente, que entrar nesse jogo que impulsiona todos para a mesma direção? Alguns grupos já começam a se movimentar no sentido contrário a essa avalanche de exigências sub-humanas.
Resgatando um passado esquecido:
Um novo movimento surge afirmando que é possível fazer parte de um mundo globalizado sem perder a sua identidade, sua essência e, principalmente, sem perder o valor real da vida humana. E isto não é utopia! É o movimento chamado "Slowdown". Muitas empresas, grandes potências do mundo, aderiram a este movimento. Quem de nós não ouviu falar da cultura Slowdown implantada pela Volvo, empresa sueca que propõe o espírito da coletividade como comportamento organizacional e uma política do tempo que produz um ritmo lento, ditado como regra para implantação de projetos após, no mínimo, dois anos de muita pesquisa e estudo. Isto deve ser assustador para alguns de nossos empresários locais, não é mesmo?!
Ao contrário da política do tempo “Slowdown”, no Brasil, o que ainda se vê é a grande maioria das pessoas tentando fazer parte desta cultura da velocidade. Aqui, quem for mais veloz e acumular múltiplas funções ao mesmo tempo garantirá um bom lugar na sociedade, no mercado de trabalho e, posteriormente, nos consultórios de psiquiatria e psicologia!!
O comportamento padronizado, repetitivo e estressante, fortalece uma sociedade altamente competitiva e consumista. São muitos alimentando a ganância para encher os bolsos de poucos. Lembrei-me do filme “A Era do Gelo”: aquele esquilo “esperto” tentando alcançar a noz dourada. Lembram? Pena que ele nunca conseguiu!
Outro exemplo do “Fast Life”: encontramos no campo da tecnologia avançada o lançamento quase que instantâneo de novos hardwares e softwares que prometem facilitar a vida do homem contemporâneo, associando a oferta à ideia da vida ideal, de uma felicidade que vem com etiqueta e preço. O efeito colateral do estresse crônico ao qual fomos submetidos resulta no desejo em "TER" em quantidade, se contrapondo ao desejo do "TER" em qualidade. O que alimenta uma sociedade puramente consumista é justamente a ideia da falsa felicidade comprada nas prateleiras dos grandes shoppings.
Embalados pelo capitalismo predador e pela competitividade acirrada, num mundo globalizado, muitas pessoas vivem correndo atrás do tempo perdido. Um tempo que tenta ser resgatado com prazeres efêmeros através da diversão vazia, dos encontros puramente casuais e sem sentido, das relações superficiais e pouco construtivas, da liquefação dos laços sociais, como bem coloca o sociólogo polonês Zigmund Bauman.
O tempo perdido:
No pensamento moderno, tempo é uma riqueza que está escasseando como o petróleo ou a água. E a sensação de falta dele, uma doença crônica, sem remédio!
Vivemos tempos de descartabilidade e não de reciclagem. A sensação do tempo perdido que produz uma fantasia onipotente alimentando a crença de que os ganhos materiais compensarão todas as noites mal dormidas, os relacionamentos desfeitos por pura falta de tempo e compromisso, as horas-extras integradas a uma jornada diária de trabalho maçante, os fins de semana comprometidos, viagens não realizadas, a perda dos melhores momentos na vida dos filhos, etc. Tudo isso é compensado pela fantasia da lucratividade a qualquer preço, pela promessa de um futuro melhor: uma boa aposentadoria promete reparar todos os danos, todas as perdas, compensar o “não vivido”, mesmo que completamente sozinho!
Quem entra nessa roda viva se queixa constantemente de um sentimento de descontentamento permanente (insatisfação), uma sensação de falta, de vazio. Na atualidade, a frase mais escutada nos consultórios de Psicologia é: “Não sei por que estou sofrendo, tenho tudo e ao mesmo tempo não tenho nada”.

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