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O estigma da solidão: Você está sozinha? Sente-se sozinha?

03/08/2020

As convenções criadas pela nossa sociedade carregam uma legião de crenças equivocadas sobre os conceitos de “solidão” e de “liberdade de escolha”. Uma mulher, por exemplo, que escolhe morar sozinha. Como esta escolha é vista pela sociedade?

Com certeza sua escolha pode ser considerada “estranha”, no mínimo inadequada para os padrões sociais, os quais ditam as regras de um comportamento esperado.

Uma mulher jovem, por exemplo, que decide sustentar sua independência com autonomia e inteligência emocional desenvolvida. Como é visto pela sociedade? Também pode sofrer algum julgamento? Afinal, existe algo nela que não se “encaixa” nos padrões esperados?

“Algo de errado ela deve ter para fazer essa escolha”. “Algum trauma, algo mal resolvido”. São as falas que ecoam por aí...

O que não falta são exemplos de mulheres individuadas, autônomas, independentes economicamente e emocionalmente. Mas é possível para uma mulher contemporânea permitir-se conquistar tamanha independência sem ser confundida com algum problema moral, psíquico ou emocional? Não. Infelizmente as mulheres independentes são rotuladas, pois a vida que sustentam não está de acordo com a nossa sociedade que espera delas outro status, o de casadas ou viúvas. No caso das solteiras, as mesmas devem preencher o status "pertencentes aos seus pais ou à família de origem".Estou exagerando? Inventando? Não.

Na teoria todos vão achar louvável tal postura de vida e até podem aplaudir. Na prática, nariz torto e julgamentos preconceituosos podendo abarcar atuações excludentes.

Felizmente o comportamento da mulher contemporânea precede à mudança das cartilhas. Creio que as cartilhas que a sociedade corajosamente ainda alimenta vão sofrer releituras e algumas importantes modificações até serem extintas por se tornarem obsoletas diante das inúmeras formas de vida ou de estilo de vida que cada um pode ter.

Atualmente é comum encontrarmos mulheres sozinhas jantando num restaurante de primeira classe ou em qualquer outro local frequentado por casais e famílias tradicionais. Também é comum encontrarmos mulheres viajando sozinhas e por opção. Mulheres que vão ao bar, sozinhas, após um dia cheio de trabalho. Mulheres que vão ao cinema, ao teatro e a outros eventos, sem problemas.

O problema não está no estilo de vida destas mulheres que podem estar, por contingência do momento, sozinhas. O problema está no julgamento que fazem por conta dos seus preconceitos. Lembrando: são mulheres que possuem uma rede de amigos-afetos e até mesmo uma “foda fixa” ou eventual, sem culpa alguma ou cobrança, ou qualquer “grilo na cabeça”. O problema não está nelas ou no seu estilo de vida. O problema está no julgamento da nossa sociedade que aponta o dedo para tentar denegrir a imagem que irradia autonomia, independência, felicidade. Seria esse brilho que poderia ofuscar a visão de alguns invejosos ou sofredores?

E você? Está sozinho? Sente-se sozinho? Qual o seu status?

Você consegue diferenciar o sentimento de solidão com o status de “estar sozinho e ser uma boa companhia para você mesmo”?

Solidão é completamente diferente da escolha que você pode estar fazendo em viver bem na sua companhia. Ou pela própria contingência: você pode estar temporariamente sozinho, momentaneamente sozinho.

De qualquer forma há uma enorme diferença entre solidão e solitude. A solitude criativa é aquela que é capaz de lhe proporcionar momentos agradáveis e prazerosos, na sua própria companhia. E isto não lhe torna uma ilha! Muito pelo contrário: a pessoa que consegue ser uma ótima companhia para si mesmo é também uma excelente companhia para os demais.

Outro mito é pensarem que a pessoa que escolhe morar sozinha vive enclausurada, sem vida social e sem sexo. Pesquisas comprovam que mulheres que moram sozinhas e possuem uma vida social ativa também são realizadas sexualmente. Isto não necessariamente implica em terem parceiros fixos. Lembram? Elas são uma boa companhia para elas mesmas! E conviver bem com a sua sexualidade também não implica em procurarem um parceiro. Elas podem se realizar sozinhas também. E tudo bem!

Como podemos julgar essas mulheres dizendo que são solitárias ou mal amadas? Ou que possuem algum problema para não desejarem viver junto de alguém? Ou por não desejarem "constituir família" (terem filhos). Não seria nossa projeção sobre essas mulheres?! Quem, mesmo numa sociedade dita moderna, consegue sustentar seu prazer, um sentido para sua vida, suas necessidades básicas de sobrevivência e as outras de estima e pertencimento, e ainda se realizar em outras áreas? Somente uma insana, não é mesmo? Ou seria uma bruxa?

Esta é a função do preconceito: depreciar mulheres fortes, independentes e felizes. Elas são um perigo para a sociedade! (risos). Uma verdadeira ameaça. Temos que cortar suas asas... Essas fênix!

Seja qual for a sua escolha de vida, seu status social, procure olhar mais para você antes de julgar qualquer outra pessoa. Cada um de nós está vivendo a sua vida conforme as suas possibilidades de realização. Afinal, não viemos a passeio, ou viemos?!

Feliz vida a toda forma de vida e amor!

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