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O Estigma da Solidão e o Assédio Moral

05/05/2023

Você está sozinho(a)? Sente-se sozinho(a)? Qual o seu status?

As convenções criadas pela sociedade carregam uma legião de crenças equivocadas sobre os conceitos de “solidão” e de “liberdade de escolha”. Uma mulher, por exemplo, que escolhe a "carreira solo". Com certeza sua escolha pode causar estranheza para algumas pessoas sugerindo "inadequação" para os padrões sociais, os quais ditam as regras de um comportamento esperado.
Uma mulher jovem, por exemplo, que decide sustentar sua independência com autonomia e inteligência emocional desenvolvidas. Como é visto pela sociedade? Também podem sofrer algum julgamento. Afinal, existe algo nelas que não “encaixa” nos padrões esperados. Existe "algo"  nelas que causa curiosidade e um certo desconforto para os que seguem cegamente o caminho da repetição de padrões comportamentais aceitos.

“Algo de errado ela deve ter para fazer essa escolha”.

“Algum trauma, algo mal resolvido”. São as falas que ecoam por aí...

Felizmente o que não falta são exemplos de mulheres individuadas, autônomas, independentes economicamente e emocionalmente. Mas, é possível - para uma mulher contemporânea - permitir-se conquistar tamanha independência sem ser confundida com algum problema moral, psíquico ou emocional? Não. Infelizmente as mulheres independentes ainda são rotuladas, pois a vida que sustentam não está de acordo com a maioria. Nossa sociedade espera outro status, o de casadas. No caso das solteiras, as mesmas devem preencher o status "pertencentes aos seus pais ou à família de origem".
Estou exagerando?  Não. Na teoria todos vão achar louvável tal postura de vida e até podem aplaudir. Na prática, nariz torto e julgamentos preconceituosos. Cochichos, risadas, comportamentos excludentes.
Contudo, o comportamento da mulher contemporânea precede à mudança das cartilhas. Creio que as cartilhas que a sociedade forçosamente alimenta vão sofrer releituras e algumas importantes modificações até serem extintas por se tornarem obsoletas diante das inúmeras formas de vida ou de estilo de vida que cada um pode escolher.
Atualmente é comum encontrarmos mulheres sozinhas jantando num restaurante de primeira classe. Ou em qualquer outro local frequentado por casais e famílias tradicionais. Também é comum encontrarmos mulheres viajando sozinhas, por opção. Mulheres que vão ao bar após um dia cheio de trabalho. Mulheres que vão ao cinema, ao teatro e a outros eventos sem problemas. Confesso, eu sou uma delas! E vivo muito bem com a minha escolha de vida.
O problema não está no estilo de vida que escolhemos. A questão aqui é sabermos lidar com o julgamento que fazem por conta dos seus próprios preconceitos. Lembrando: somos mulheres com uma rede de amigos-afetos e sabemos nos nutrir na nossa companhia. Está tudo certo com a nossa escolha. Os narizes tortos e as desconfianças nos olhares das pessoas que ainda se surpreendem conosco tem relação com o desejo oculto e reprimido nelas mesmas. Ou seja, preciso desqualificar essa liberdade e essa energia vital que dá conta desse SER para não encarar meus medos e minha solidão vivida na multidão. 

Seria esse brilho que poderia ofuscar a visão de alguns invejosos ou sofredores de plantão?

E você? Está sozinho(a)? Sente-se sozinho(a)? Qual o seu status?
Você consegue diferenciar o sentimento de solidão com o status de “Estar Sozinho”?

Solidão é completamente diferente da escolha que você pode estar fazendo em viver bem na sua companhia. Ou pela própria contingência: você pode estar temporariamente sozinho, momentaneamente sozinho.
De qualquer forma, há uma enorme diferença entre solidão e solitude. A solitude criativa é aquela que é capaz de lhe proporcionar momentos agradáveis, prazerosos, na sua própria companhia. E isto não lhe torna uma ilha! Muito pelo contrário: a pessoa que consegue ser uma ótima companhia para si mesmo é também uma excelente companhia para os demais.

É bom lembrar que a liberdade e a privacidade também podem e devem ser vividos numa relação conjugal, o que torna o relacionamento ainda mais atraente.

Outro mito é pensarem que a pessoa que escolhe morar sozinha, vive enclausurada, sem vida social e sem sexo. Pesquisas comprovam que mulheres que moram sozinhas e possuem uma vida social ativa, também são realizadas sexualmente. Isto não necessariamente implica em terem parceiros fixos. Lembram? Elas são uma boa companhia para elas mesmas. Podem se realizar sexualmente com parceiros afetivos e/ou sozinhas.

Como podemos julgar essas mulheres dizendo que são solitárias ou mal amadas? Ou que possuem algum problema para não desejarem viver junto de alguém? Não seria nossa projeção sobre essas divas?! Quem, mesmo numa sociedade dita moderna, consegue sustentar seu prazer, um sentido para sua vida, suas necessidades básicas de sobrevivência e as outras de estima e pertencimento, e ainda se realizar em outras áreas? Somente uma insana, não é mesmo? No passado, mulheres sábias eram consideradas bruxas e muitas foram queimadas vivas em fogueiras. As fogueiras de hoje são "modernizadas", disfarçadas, mas ainda existem.

Portanto, esta é a função do preconceito: depreciar mulheres fortes, independentes e felizes. Elas são um perigo para a sociedade! (risos). Temos que cortar suas asas.

Seja qual for a sua escolha de vida, procure olhar mais para você antes de julgar qualquer outra pessoa. Cada um de nós está vivendo a sua vida conforme as suas possibilidades de realização. Afinal, não viemos a passeio para este mundo. estamos aqui para aprender a viver com propósito de crescimento espiritual, de desenvolvimento intelectual, emocional e afetivo. 

Sempre penso na herança afetiva que vou deixar quando partir. Quero poder ser útil à humanidade, com o meu próprio estilo de vida, com as produções de conteúdos, com as minhas relações sociais e profissionais. Terei partido com a alma em paz.

Feliz vida a toda forma de vida!

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