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DIA DO AMIGO!

20/07/2021

As teorias da comunicação oferecem técnicas específicas para uma comunicação mais clara e assertiva. Nos últimos tempos os problemas de comunicação aumentaram significativamente promovendo conflitos nas relações pessoais e profissionais.

A maneira como lidamos com as nossas expectativas em relação ao outro pode contribuir significativamente para o aumento dos conflitos ligados ao relacionamento interpessoal, incluindo as amizades.

Grande parte das relações humanas está imbuída de uma carga emocional projetiva que interfere consideravelmente na capacidade de compreender o outro. Considerando que uma boa comunicação requer habilidades e competências que vão se desenvolver ao longo da vida, somadas às projeções do psiquismo, este campo da interação humana torna-se um grande e permanente desafio na superação das intercorrências que fazem parte da subjetividade humana. Ou seja, são conteúdos intrapsíquicos, emoções, sentimentos, expectativas que precisam de uma boa dose de filtro e autoconhecimento para não derrapar em pré-julgamentos e nos ditos "cancelamentos".

Muitas amizades são desfeitas, vínculos afetivos são rompidos, desencontros são ocasionados por conta desses dois principais fatores:

1. De ordem psicodinâmica (necessidades psicológicas individuais): o que se pretende alcançar através do diálogo com o outro e do investimento afetivo na relação.

2. De ordem cognitiva e intelectual: que se refere às competências na arte da conversação, do diálogo, da empatia e da negociação para se chegar a um determinado resultado.

Muitas pessoas se desentendem por não conseguirem expressar adequadamente ou mais assertivamente suas necessidades, interesses e motivações. "Mal entendidos" podem ser gerados por problemas de autoestima. A autoestima, como o próprio termo define, é a estima (o apreço) que temos por nós mesmos. Conseguimos este feito através de uma avaliação subjetiva da nossa pessoa, além do reconhecimento pela identificação das nossas capacidades e limitações. Entra aí uma “palavrinha mágica” que é a validação do sujeito que habita o corpo físico. É quem reconhecemos merecedor de atributos pessoais significativos. É a consciência que temos de nós mesmos, a mais genuína e autêntica.

Imaginem agora as projeções da nossa mente, do nosso psiquismo, com todas as distorções que possam existir nesta esfera, mais a avaliação subjetiva que fizemos da nossa realidade, tudo isso em meio a uma negociação ou a um diálogo onde se pretende atender uma demanda interna que visa, muitas vezes, elevar o nível de satisfação pessoal. Podem imaginar?! Complexo, não?! Pois é, se mal nos compreendermos, como poderemos compreender o outro? Eis a questão. Eis o dilema.

Então, para quê servem as amizades ou as relações interpessoais?

Este é um paradoxo, pois o encontro com o outro é sempre um encontro com a gente mesmo. É neste encontro que também vamos desvendando a nós mesmos. Já dizia Carl Jung:

"O encontro de duas personalidades assemelha-se ao contato de duas substâncias químicas: se alguma reação ocorre, ambos sofrem uma transformação".

Na minha experiência pessoal percebi que uma comunicação clara e mais assertiva se dá quando reconhecemos as nossas “carências” ou dificuldades, evitando a projeção destas “faltas” no outro. Ninguém pode preencher nossos "buracos emocionais", nossos vazios afetivos. Ter consciência sobre o que é nosso e o que é do outro pode facilitar a comunicação dentro de um processo onde as individualidades sejam respeitadas. O fato é que grande parte das pessoas busca resolver seus dilemas através dos outros, ou projetando no outro as suas próprias carências ou usurpando da história alheia em prol de seus interesses pessoais. Mais ou menos assim:

"É mais fácil julgar, criticar, invadir o espaço do outro sem ser convidado e tentar organizar os vagões da outra locomotiva do que olhar para a minha e perceber que, talvez, ela tenha se descarrilado”.

Fique atento aos seus momentos de vulnerabilidade. E não tenha medo de expor suas vulnerabilidades, pedindo auxílio ao seu amigo ou ao seu afeto para melhor compreender os entraves na relação. Tente se enxergar separadamente do outro para reconhecer o que é seu e o que pertence ao outro. Esta é a difícil arte da comunicação assertiva.

Vivemos a “Era do Narcisismo”, uma cultura de aparências e superficialidades no campo das emoções e sentimentos. Isto faz com que se proteja, ao máximo, as dificuldades, encapsulando-as por meio das defesas psicológicas. Desta forma eu me coloco acima dos outros num processo de autodefesa e autoafirmação. Como se eu não fosse tão humano quanto os demais.

Os processos de desqualificação, de menosprezo e até humilhação podem aqui serem utilizados em prol deste movimento que sugere a inversão da ordem das coisas para se defender psicologicamente.

O autoconhecimento é uma ferramenta valiosíssima para compreender melhor esse universo das subjetividades humanas. Nas amizades fizemos trocas de experiências, de vivências, compartilhamos conhecimento, sentimentos, emoções e a sabedoria que vamos adquirindo ao longo da vida. O outro não pode ser uma extensão de nós mesmos ou do nosso ego.

O outro é também uma individualidade que deve ser respeitada. Numa relação onde há dominação-sujeição não existe o respeito e a consideração para com outro, muito menos para consigo mesmo. Se você tem ou mantém ligações como estas, reflita sobre o que te levou a entrar em contato com esta dinâmica comportamental, qual o ponto de ligação, de conexão que fez com que você se deixasse envolver por uma dinâmica que distorce a realidade de quem você é e de quem o outro é de fato.

Nossas expectativas irreais, ilusórias e infantis nos levam para dentro de relações disfuncionais e patológicas na tentativa de suprimir nossas carências.

Penso que, na cesta básica de toda pessoa deveria constar o pagamento integral de, no mínimo, uns três anos de psicoterapia para que as pessoas pudessem ter uma noção de si mesmas e dos seus atos e atuações gerados neste emaranhado de emoções e muitas vezes de equívocos de interpretação. Como bem disse Sócrates: “Conheça-te a ti mesmo”.

Conheça-te a ti mesmo e conhecerás também a realidade que te cerca.

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