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Carnaval na Pandemia: uma breve reflexão

28/02/2022

Ao pesquisar alguns textos psicanalíticos comecei a refletir sobre alguns significados contidos nesta data festiva. Um deles é oriundo dos ritos transitórios de Thanatos e Eros. Da mitologia grega, Freud se apropria dos nomes de Eros e Thanatos para exemplificar as teorias das pulsões, que explica a formação psíquica de todos os indivíduos. Eros e Thanatos correspondem, consequentemente, ao desejo erótico e a atração pela morte, coexistindo simultaneamente. No carnaval o que percebemos claramente são esses movimentos, transitando entre Thatanos (o deus da morte) e Eros (o deus da vida). Uma das formas de se lidar com a morte em seus diversos significados e significantes é ensaiar eroticamente uma aproximação com essa pulsão. Por isso assistimos os “foliões” em seus exageros e excessos. O excesso de exposição na pandemia, por exemplo, ainda sob a variante Omicron, é a mostra mais clara, explícita, dessa aproximação com Thanatos. A fantasia onipotente, de domínio sobre qualquer que seja o resultado a posteriori, toma conta dos grupos e das massas carnavalescas. É sabido que estamos esgotados, cansados de uma liberdade ainda mais vigiada e relativizada há dois anos ininterruptos de cuidados extremos para evitarmos o contagio e a disseminação do vírus da Covid e suas variantes. E este esgotamento pode ser usado a favor da predominância dessas pulsões, num jogo de poder ambivalente. Essa gangorra “onipotência-impotência” pode ensaiar um poder fictício que à luz dos movimentos sociais embarcados pelas bebidas alcoólicas, drogas e sexo livre, resultará ou culminará em consequências que irão explicitar as “escolhas” e os impulsos motivados. O que vamos mobilizar neste período? Eros ou Thanatos? Existiria alguma forma de equilíbrio nos festejos que convidam a ruptura de todas as barreiras e limites para o ID, o puro desejo e a vontade sem freios? Ou vamos dar vazão à Eros, a pulsão de vida que oportuniza o desenvolvimento da nossa criatividade e da preservação das nossas forças integrativas? Na psicologia freudiana, eros, que não deve ser confundido com libido, não é exclusivamente o desejo sexual, mas nossa força vital, a vontade de viver, é responsável pelo desejo de criar vida e favorecer a produtividade e a construção. Para alguns, flertar com a pulsão da morte pode ser o impulso mobilizado em prol do “esquecimento ou anestesia temporária” das mortes, das perdas já sofridas ou do “não-realizado” e suas frustrações generalizadas. Para outros, a pulsão vital a ser mobilizada vem de Eros, o “deus da vida”, da criação, da invenção e reinvenção, do desenvolvimento de potencialidades adormecidas e novas ideias, ações e a sensação de realização trazendo um sentido e um significado para sua existência, mesmo em tempos de guerra e pandemia. Uma potente energia que aumenta a produção de ocitocina, que ficou conhecida também como o hormônio que promove sentimentos de amor, união social e bem-estar. Façamos nossas “escolhas”.

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