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A inveja: quando o sucesso do outro incomoda

03/04/2022

No folclore popular e em determinadas culturas observamos rituais religiosos, simpatias e superstições baseadas na crença popular de que alguns sentimentos, especialmente os mais hostis, estão diretamente ligados às tragédias e dificuldades na vida de algumas pessoas. A inveja, por exemplo, é um dos sentimentos mais combatidos neste sentido. Porém, há que se estabelecer uma diferença importante entre a inveja sob o ponto de vista danoso e patológico e a cobiça ou admiração que pode elevar o nível motivacional das pessoas em busca de crescimento e evolução. Quando o sucesso de uma pessoa passa a incomodar a outra é sinal de que, infelizmente, este “mal estar” resultará num sofrimento emocional ainda maior (quanto mais o outro se destaca, mais o “incomodado” sofre com isso). A pessoa que se incomoda com o sucesso alheio geralmente se sente menos. Instala-se aí um processo de menos valia e desqualificação pessoal, ou seja, a pessoa experimenta um forte sentimento de inferioridade ou incapacidade provocado por uma autoestima reduzida. Se engana a parcela da população que pensa que quem inveja está causando um “mal terrível” ao invejado. Na verdade, quem se incomoda mais com o sucesso alheio produz em si mesmo um sofrimento tão grande que - para alguns - a única forma de aliviar a “dor de cotovelo” é pensar e agir em prol da diminuição do sucesso do outro. Em alguns casos, o sofrimento é tão intenso que provoca o adoecimento da própria pessoa, do invejoso. Para tentar aliviar este sofrimento, algumas pessoas atuam de tal maneira a provocar o mesmo sofrimento no “objeto eleito”. Elas se sentem tão injustiçadas pelo sofrimento que experimentam que passam a culpar o invejado (a vítima) por tal situação e sentem-se aliviadas quando sua vingança se cumpre ocasionando prejuízos na vida do invejado. Esta tentativa consiste, na fantasia onipotente da pessoa, em minimizar suas próprias dificuldades na medida em que a diferença causada pelo sucesso do outro diminui, quando invertem as posições por meio de atuações perversas. Geralmente as pessoas de sucesso não se importam com isto. Os grandes empreendedores não encontram nesta atitude algum obstáculo para interromperem seu percurso de sucesso. E por mais que o “outro” tente criar dificuldades, no final, quem sai mesmo perdendo a chance que poderia ter de encontrar uma feliz referência ou, quem sabe, uma parceria de sucesso, é realmente quem se importou ou se incomodou com o sucesso alheio. Freud costumava tratar este aspecto através dos conceitos da pulsão de vida e de morte, afirmando que estas pulsões estão dentro de cada um. Temos, contudo, livre-arbítrio para fazer - de preferência - uma escolha adequada. E esta escolha (pulsão de vida) implica em aprender a admirar o sucesso alheio e compartilhar das conquistas na coletividade. Do contrário poder-se-á amargar o próprio fracasso, digo, o próprio veneno.

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