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A felicidade interditada

28/07/2020

Você se sente, ou não, digno do prazer e da autorrealização? Já se perguntou sobre as razões da interdição do gozo em sua vida?

Brené Brown, assistente social, “pesquisadora-contadora-de-histórias”, como se autointitula, disse em certa ocasião:

"Assumir a nossa história pode ser difícil, mas não tão difícil como passarmos nossas vidas fugindo dela. Abraçar nossas vulnerabilidades é arriscado, mas não tão perigoso quanto desistir do amor e da pertença e da alegria - as experiências que nos tornam mais vulneráveis. Só quando formos corajosos o suficiente para explorar a escuridão vamos descobrir o poder infinito da nossa luz".

Somos seres gregários por natureza. Nossa biologia comprova nossa condição humana. Não podemos seguir em frente sem conexão. Não firmar vínculos nas relações da nossa vida significa desistir de nós mesmos.

Mesmo que nossa biologia, nosso DNA, comprove a conexão entre duas pessoas, ainda assim podemos nos sentir desconectados. Mesmo que para nossa sobrevivência, nos primeiros anos de vida, tenhamos que depender do olhar e dos cuidados de alguém por meio do vínculo mãe-filho, pai-filho (ou responsáveis diretos), mesmo assim, ainda podemos temer o contraponto dessa experiência: a rejeição e o abandono.

É paradoxal! Justamente a nossa vulnerabilidade humana, a qual garante a conexão, é a mesma em que nós podemos nos colocar numa “sinuca de bico”! Ou seja, em posição de defesa pelo medo de perder a conexão.

Nascemos completamente dependentes e vulneráveis. Ganhamos aos poucos autonomia e estabelecemos relações de interdependência na vida adulta. Mas o temor à rejeição, em alguns casos, pode interditar o amor e a pertença, e atrapalhar e muito a nossa vida na realização dos nossos mais profundos desejos, na obtenção do prazer e do gozo em uma vida plena.

Brené Brown, em sua pesquisa, se deparou com esse paradoxo, com o maior medo que podemos ter: o medo da desconexão, o medo do abandono. Ela dividiu dois grupos em sua pesquisa: o grupo das pessoas que possuíam um sentimento de merecimento, pessoas que se sentiam dignas de conexão. Eram pessoas de coração pleno de amor e de pertencimento porque tinham um ingrediente que as diferenciavam do segundo grupo. Elas tinham coragem de serem imperfeitas! A vulnerabilidade não era um problema para elas, era exatamente a matéria-prima que as faziam ainda mais plenas e conectadas à vida e consequentemente às pessoas.

Já, o segundo grupo da pesquisa era composto por pessoas que ao invés da coragem de serem imperfeitas, tinham um forte sentimento de vergonha pela sua vulnerabilidade. A vulnerabilidade para este grupo era motivo de vergonha. Elas tinham medo, muito medo de desagradar os outros, de não corresponder às expectativas das pessoas, principalmente as pessoas que estavam mais próximas a elas, com as quais precisavam garantir um vínculo. Aprenderam a desenvolver defesas psicológicas para acobertar quem elas de fato eram. Aprenderam a “vestir a armadura”, colocavam máscaras sociais na tentativa de agradar as pessoas em busca de aceitação e reconhecimento. Cada vez que elas reforçavam essa defesa, cada vez mais sentiam-se inseguras, vulneráveis e envergonhadas por não conseguirem esconder seus fracassos, seus “erros” (equívocos) e suas frustrações.

Vivemos numa “sociedade moderna intolerante”. O contexto sociocultural em que vivemos acaba sendo um prato cheio para atacar a vulnerabilidade das pessoas sem coragem para assumirem a si mesmas nesta condição, em toda sua extensão e concepção. Em contrapartida, para as pessoas com coragem, com coração pleno, as que possuem um senso de merecimento de amor e de pertencimento, independente de suas "histórias-tragédias", esta mesma sociedade pode representar certa ameaça, mas elas jamais deixam de serem elas mesmas e de buscarem o que acreditam ser do seu direito e do seu merecimento desde a sua concepção. Elas se sentem merecedoras do amor, da pertença, do prazer, pelo simples fato de existirem e de ocuparem um lugar neste mundo.

Mas o que sustenta a vergonha que traz a interdição do gozo, da realização e do prazer em sua vida?

O que sustenta essa interdição é a ideia da insuficiência. A base da insuficiência é a própria vulnerabilidade. Complicado, não?! Sim e não! Depende de qual grupo você pertence. Do grupo dos que possuem um coração pleno e um forte sentimento de merecimento ou do grupo dos que se sentem envergonhados por não se sentirem plenos ou, melhor, por não se sentirem suficientes em sua própria insuficiência. Complexo? Nem tanto! Vamos descomplicar:

Se você aceita a sua vulnerabilidade e todos os seus tropeços e enganos, você deixa de se sentir insuficiente. E, mais, se você aceita a vulnerabilidade e a acolhe com compaixão e amorosidade, você percebe que ela não significa fraqueza, muito pelo contrário, significa força. Significa a possibilidade de reacender a luz em meio à escuridão. Se você aceita a sua história de vida e a sua dor, as suas vulnerabilidades, você também aceita a luz, a criação, a transformação.

Brené Brown alertou: não podemos extinguir uma parte de nós em razão da outra. Se extinguirmos a tristeza, o fracasso, as perdas, a solidão, os medos, extinguiremos também a alegria, o sucesso, a realização, as conquistas, a comunhão, a CONEXÃO, a pertença, o amor.

E a conexão é a razão de estarmos aqui, neste planetinha chamado Terra! É o porquê de estarmos aqui. Lembram? Nascemos em grupo, somos seres gregários por natureza. Esta é a razão de tudo: a conexão. É o que dá propósito e significado às nossas vidas. É assim que somos.

Então, não importa mais os equívocos de interpretação da sua mente sobre todos os traumas e dissabores vivenciados em sua vida; não importa mais o que seus pais disseram ou deixaram de dizer quando você era apenas uma criança; se atenderam bem ou não às suas expectativas e necessidades! Isso tudo já não importa mais. O que importa é o que você vai fazer com a sua criança carente, desprotegida, desamparada e insegura. É o que você vai fazer com a sua vulnerabilidade. É como você vai tratar a sua vulnerabilidade. E isto fará toda diferença na sua vida!

Então, volte a se perguntar:

Eu mereço conexão? Eu mereço o amor, a pertença na minha vida? Este prazer e esta realização? Este senso pleno de merecimento? Mesmo que exista algo em mim, que se as pessoas descobrirem possa até mesmo não agradá-las, ainda assim me sentirei merecedor dessa conexão? Mesmo diante da minha vulnerabilidade, de toda história de terror que sofri ou que imaginei ter sofrido, de todos os tropeços e enganos na vida adulta, me sentirei SUFICIENTEMENTE capaz para conectar-me à vida e às pessoas?

Se a resposta for “sim”, sou vulnerável, portanto imperfeito, mas sou suficiente com a minha imperfeição e sou, sim, digno do prazer, do amor e da pertença, então você terá encontrado o seu caminho, a sua luz, o seu lugar neste planeta e na sua própria história de vida.
Pense nisso!

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