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A conquista das mulheres nos últimos séculos

04/08/2020

Desde a revolução francesa com o surgimento do movimento feminista, nós, mulheres, seguimos em direção à conquista do senso de equidade. No intuito de garantirmos a justiça pela equiparação dos direitos entre homens e mulheres, continuamos trabalhando em prol da nossa autonomia. E isto inclui também a “libertação das mulheres” através da revolução sexual.

Aliás, a libertação das mulheres sempre foi o lema do movimento feminista que buscava a inserção da mulher no mercado de trabalho, direitos e deveres iguais e a livre expressão da sua sexualidade. Direitos, estes, priorizados e assegurados ao homem em primeira e única instância enquanto à mulher restariam os deveres da casa, a educação dos filhos e a total submissão e aceitação do regime de casamento patriarcal vigente.

Ao longo dos séculos muitas conquistas foram feitas, mas sentimos ainda, vez ou outra, o preconceito de parte da sociedade (incluindo mulheres também) diante das “feministas” ou diante das mulheres autônomas. O feminismo aqui é equiparado à autonomia. Porém, autonomia e independência serão tratadas de modo singular, pois independência não é sinônimo de autonomia.

Autonomia tem a ver com total liberdade de escolha em qualquer área da vida de uma mulher. Exemplo: se deseja casar ou não, se deseja ter filhos ou não, se deseja morar na mesma casa com seu parceiro (ou parceira afetiva) ou em casas separadas, se deseja uma produção independente ou buscar uma barriga solidária, se deseja transar na primeira noite que conheceu um homem (ou uma mulher), se deseja trabalhar fora ou em casa, se deseja ser religiosa ou ateia... Enfim, são inúmeros exemplos de autonomia que podemos citar.

De tudo, a autonomia diz respeito ao domínio próprio que a mulher tem de si mesma, considerando prioritariamente a forma de pensar e ver o mundo, suas escolhas e o seu estilo de vida. Na autonomia pouco importa a independência financeira. A autonomia não tem, necessariamente, que estar ligada ao ganho financeiro ou a condição econômica da mulher. Uma mulher pode ser autônoma e não ter muito dinheiro ou até mesmo ter dificuldades financeiras. A diferença está justamente na capacidade de lidar com a sua realidade e com as mudanças que vão ocorrendo ao longo da sua vida. Ou seja, a diferença está em “bancar a sua condição” e não depender emocionalmente do homem para se sustentar e para se realizar como pessoa.

Já, a mulher independente pode não ter autonomia. Aqui a diferença reside na dependência emocional da figura masculina (ou da parceria afetiva – independente de gênero). Portanto, uma mulher pode ter sucesso profissional, um ganho financeiro considerado muito bom, condições econômicas que lhes favoreçam realizar projetos e sonhos pessoais, porém pode não ter autonomia (domínio próprio). Neste sentido, ficará presa às questões emocionais de dependência e submissão.

Ao contrário do que a maioria pensa, mulheres financeiramente independentes podem não ser emocionalmente independentes e sustentáveis. Podem depender de um casamento, de um homem, de relações sociais aprovadas e valorizadas. Podem manter casamentos ou relações afetivas completamente disfuncionais, desde que não haja separação.

E o homem? Como se sente em relação a essas mudanças?

Bem, para os homens que ultrapassaram a fase da comprovação da sua masculinidade por meio do machismo ou do domínio sobre a mulher, para estes as mulheres autônomas são extremamente atraentes e desejáveis. Estes homens também estão na mesma condição, são homens autônomos do ponto de vista emocional e preferem encontrar mulheres autônomas.

Já, homens inseguros, desprovidos de uma boa autoestima, com perfil machista e conservador, sentem-se ameaçados diante de mulheres autônomas. Para eles, elas são uma verdadeira ameaça à sua masculinidade. Esses homens ainda têm a necessidade primária de comprovação e confirmação da sua virilidade (buscam constantemente autoafirmação) através da sua soberania na relação. Podem se relacionar com mulheres economicamente independentes, desde que sejam dependentes do “seu amor-narcisista”.

Felizmente percebemos mudanças acontecendo na atualidade. Mesmo que o embate ainda esteja acontecendo dentro de uma ceara visivelmente extenuante por se tratar de uma época onde a polarização está dominando os discursos da nossa sociedade. Ainda assim, o movimento feminista continua acontecendo e propondo mudanças significativas nas relações entre os pares. Essas mudanças irão cada vez mais beneficiar as relações afetivas e as relações sociais, propiciando ao homem a expressão de toda sua potencialidade, a sua plena realização, sentindo-se cada vez mais seguro de si tanto quanto a mulher autônoma é capaz de ser.

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