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Das diversas configurações familiares

28/06/2021

Sem sombra de dúvida está havendo uma significativa mudança nos papéis desempenhados na vigência do matrimônio ou na vigência de uma sociedade afetiva. Percebemos a evolução da nossa sociedade na revisão das funções delegadas aos parceiros afetivos.

Atualmente são várias as configurações familiares apresentadas em nossa sociedade. Temos casais que se formam a partir de um ou mais divórcios incluindo filhos destas relações; casais homoafetivos que adotam crianças ou que estão concebendo filhos biológicos através de métodos de fertilização com a possibilidade de inclusão da “barriga solidária”; homens e mulheres que firmam uma sociedade afetiva mas que optam por morar em casas separadas, além dos parceiros afetivos em configurações de poliamor. São mais de cem identidades psicossexuais que também se apresentam dentro dessas novas modalidades de relacionamento afetivo. Embora algumas pessoas pensem o contrário, observamos frequentemente a busca de maior autenticidade nas relações e nos vínculos firmados. Estes, baseados no sentimento e no desejo genuíno de uma vida conjugal e familiar alicerçada na realização afetiva ou, em outros termos, no amor e na reciprocidade de sentimentos e objetivos pessoais comuns aos parceiros.

Com a inclusão da mulher no mundo do trabalho e a sua contínua luta para que direitos iguais fossem assegurados, a relação conjugal, na sua formatação anterior, sofreu significativas mudanças em seu conceito e um novo olhar para a relação se faz presente em nosso meio. A própria Psicologia precisou rever suas teorias de desenvolvimento humano a respeito do vínculo mãe-filho e o desempenho da função parental na vida da criança a partir desta nova concepção de família.

Para a Ciência, independente da configuração familiar (do "formato"), o que realmente importa é que os papéis se mostrem bem definidos no contexto familiar para que a individualidade de todos seja preservada, bem como as funções esperadas na família possam ser desempenhadas de um modo claro e efetivo. Portanto, não nos preocupemos com o gênero masculino e/ou feminino, vamos dar importância para o desempenho da função dos pais ou responsáveis pelos filhos, mesmo que sejam dois homens ou duas mulheres, ou ainda um trisal, desempenhando as funções de pai e de mãe, ou seja, de cuidadores.

Não há mais lugar em nossa sociedade para os casamentos fundamentados em relações aparentes ou superficiais, alimentados apenas por representações sociais ou pelas imagens que normalmente são publicadas nas redes sociais para "vender" a ideia de casamento feliz ou de família-tradicional-perfeita.

O lugar conquistado pela mulher na sociedade contemporânea mudou as bases do contrato afetivo. Passando a prover suas necessidades básicas, a mulher deixou de valorizar tão somente o "homem-provedor", promovendo uma mudança radical na relação afetiva. O "homem-provedor" é artigo de luxo ou um “artigo em extinção”, embora muitos continuem insistindo nesse papel por não conseguirem se reconhecer de outra forma.

Esse novo papel da mulher, segundo o psicanalista David Zimerman, contribuiu fundamentalmente para que o homem colaborasse mais intimamente com algumas tarefas domésticas; com uma nova atitude, a de partilhar com a companheira problemas, projetos e decisões; com um convívio mais próximo e intenso com os filhos e como um novo modelo de identificação que vai além daquele papel do “machão autoritário” ou do "homem-provedor" que atendia apenas as necessidades básicas de sua família.

Ao contrário de algumas mentalidades, que em algum segmento da nossa sociedade ainda reside, essa nova concepção de relacionamento familiar permite que as pessoas sejam mais e não menos. E que as relações perdurem por muito mais tempo nas bases de um relacionamento funcional. "Meia-sola" serve apenas para aqueles que se reconhecem e se mantém em suas deficiências, para aqueles que rejeitam toda possibilidade de mudança e desenvolvimento pessoal.

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