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Como os pais podem formar/deformar a vida emocional de seus filhos?

05/05/2022

Muitas teorias advogam a favor do processo de estruturação da psique e da personalidade do homem a partir da educação e das vivências nos vínculos parentais. Outras sugerem que o ser humano, ao nascer, já é dotado de um "quantum de energia" em seu psiquismo rudimentar, o que poderíamos dizer que parte de seu “eu” está nele contido. E com o passar do tempo este ego rudimentar, ao ser desenvolvido, construiria uma identidade única, capaz de dar (ou não) conta de suas próprias necessidades emocionais.

No livro “O Drama da Criança Bem Dotada”, a autora Alice Miller descreve situações que remontam a história de muitos personagens (não fictícios) que sofreram as consequências de uma educação narcisista ou pouco efetiva na medida em que os pais deixaram de reconhecer a criança em sua essência. Pais que inverteram a ordem dos papéis.

No livro que inclui em sua introdução uma chamada contundente, “como os pais podem formar (e deformar) a vida emocional dos filhos”, podemos perceber as intenções da autora que retrata com fundamento e experiência as agruras de uma vida emocional limitada por padrões pré-estabelecidos. Padrões que reprimem o que há de mais puro na essência do ser humano: toda sua capacidade vital (sua pulsão de vida), que o faz criar, construir, inovar e vencer os desafios que se apresentam a cada momento.

Muitas pessoas procuram auxílio em psicoterapia para poder “se encontrar” e ouvir a sua própria voz interior, porque “deixaram de existir” há muito tempo. Anestesiados e quase falidos em si mesmos produzem sintomas de uma pessoa que está morrendo aos poucos. Não raro, são jovens que já não sentem mais prazer em viver e que descrevem
uma apatia e um cansaço que nem mesmo na velhice poderiam experimentar. A depressão é um dos transtornos mais frequentes nos consultórios de Psicologia e de Psiquiatria que exemplifica perfeitamente a situação que apresentamos. Uma pessoa que deixou de viver - e o “deixar de viver” aqui é o mesmo que “deixar de sentir” . Uma pessoa que carrega um corpo físico e um corpo egóico construído com base nas necessidades de“falso self”, seguindo padrões que nem sempre desejou para si.

Submissos a essa voz de comando interno (pois na fase adulta são os pais internalizados que podem ainda falar mais alto), acabam por se dividir entre os seus desejos e a necessidade de corresponder às expectativas alheias para sentirem-se amados e “protegidos emocionalmente” em esquemas mentais que reproduzem seus próprios traumas. Assim, podem permanecer neste estágio de subserviência e de controle para evitar o contato com a realidade. A realidade de quem não se sentiu amado e respeitado em sua individualidade. A realidade que revela a ausência de pais que pudessem ter amado seu filho nas suas diferenças, na sua individualidade, não sobrepondo a essa função suas próprias vontades e desejos, de adultos que na maioria das vezes foram também castrados e reprimidos. Chamamos isto de conflitos transgeracionais, ou seja, padrões mentais e comportamentais que se repetem de geração a geração até encontrar uma resolução.

Solução para este conflito, nesta ambivalência entre o “eu” e o “tu”? Um dos caminhos é a psicoterapia associada a uma dose cavalar de boa autoestima a ponto de olhar para sua realidade e poder, assim, fazer a sua escolha, livre de pré-conceitos e de padrões disfuncionais. Do contrário, a perversidade agradecerá o trabalho das famílias que mantém seus filhos à mercê de um outro tipo de domínio e manipulação.

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